sexta-feira, 14 de maio de 2010

Penso nisto...



Está tudo doido.

Já não se trata de crise mas da falência deste modelo de educação social em que ensinar a lutar pelos direitos e legitimidades individuais e colectivas é substituído pelo precoce incentivo ao engolir sapos vivos.

Está mesmo, está tudo doido. E o mais engraçado é que nos iludimos com o facto de nos ser mais vantajoso o escapismo do que olharmos de frente para as consequências generalizadas que tal acarreta quer para o indivíduo quer para o colectivo.

Chamando os bois pelos nomes, esta não é uma falência dos sistemas imposta exclusivamente pelos órgãos de decisão e pelo poder das instituições mas sobre tudo uma falência com a qual pactuamos logo desde a sua gestação, porque nos complica compreender que a canalhice e injustiça reinantes só são possíveis na medida em que, para manter e alcançar poder, status, proveito, ou mesmo, em ultima instância, garantir sustento, acobardarmo-nos diante da verdade e refugiarmo-nos no mutismo torna-se moeda de troca mesmo que nos conduza à frustração e revolta silenciosa. E isso paga-se com depressões e outras pandemias mentais e emocionais em crescente proliferação.

Engraçado também é o facto de que na maior parte das vezes, quando se narra a realidade dos factos, os que lhe dão convictamente forma negativa consideram estar-se a falar mal deles. De facto isto é esquizofrénico, quer dizer, perverso. Sempre pensei que pelo falar-se a verdade acerca de alguém se estava a legitimar as suas pretensões e a enaltecer as suas capacidades de levar por diante aquilo em que acredita. A única explicação encontrada para não ser assim é que, tal como nas fábulas, enquanto os lobos se conseguem manter disfarçados de cordeiros vão conseguindo comer o rebanho. Queixamo-nos de haver uma perversão de valores mas somos nós quem na realidade os perverte, porque nos ensinam o conforto das suas vantagens mesmo que se virem contra nós: Suicidários acalentando o desamor para com os nossos educandos e filhos.

Não é de estranhar que, carente de amor , como nunca, a sociedade esteja pautada pelo crescente desenvolvimento de toda uma série de patologias psiquiátricas e pelo desencanto do próprio individuo ao ter-se na realidade.

Por exemplo: O obscurantismo vivido em diversos sectores já não se prende com o facto dos seus actores se defenderem uns aos outros mas, sobre tudo, a si mesmos. Todos sentem mas ninguém ou poucos falam, e enquanto não, independentemente de nos magoar e zangar continua a reinar o abuso, porque, enfraquecidos, permitimos, atirando para terceiros a culpa do que acaba por nos ser concedido. Só que com isso não papo porque os meus pais sempre me disseram ser feio colocar a culpa nos outros, sendo igualmente responsável pelas minhas escolhas, decisões e atitudes.

Vai na volta quem estava doido eram eles.

O mais que sei é que segundo os especialistas o cinismo é uma vertente da raiva que, uma vez atingindo o seu limiar conduz a convulsões. Se se torna cada vez mais difícil pagar psiquiatras não seria mais sensato aprender a cultivar a verdade do que chegar a elas? Se calhar não. Preferimos continuar na cantilena das queixas e choraminguice e a dar desemprego aos psicólogos produzidos em barda.

A sério, devo estar mesmo doido e passei do pensamento à fábula vendo como uma rábula falseadora isto de, se não crescermos no sentido de ser-mos fiéis à verdade nunca teremos a capacidade de ensinar aos nossos filhos o senso de dignidade adveniente da legitimação dos direitos e garantias herdados à nascença.

Penso nisto…

PBC

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