terça-feira, 25 de maio de 2010

Este país é um espectáculo...

Foto PBC



Este país é um espectáculo…

Não, não venho falar do rombo no BPN e das suas consequências na economia contributiva, nem das que se sabem, pelo menos quarenta e cinco crianças vitimas diárias de maus tratos e abusos sexuais, nem do facto de, como se muitos mais houvessem, sermos o vigésimo sexto país da Europa no que respeita à qualidade dos serviços de saúde, nem dos puníveis pavoneando impunemente as suas calotes, nem do discurso das Manuela Ferreira Leite nas soluções para o ensino, nem do vale e Azevedo, nem de outras misérias semelhantes, porque isso não interessa a ninguém e já é passado.

O presente, uach, de diferente ,só mesmo a vovuzela.

Mas pronto, adiante, venho, isso sim, falar da minha mais recente descoberta que, para além de mim, também não interessa a ninguém.

Sabem que Portugal é uma referência no minimalismo, na arte do minimal? Pois, claro que não sabem. Eu próprio, até ontem, desconhecia por completo esse facto.

Para que entendam, importa falar-vos da minha mais recente aventura que não foi pôr-me a jeito nos novos acrescentos da IC 16, essa obra prima da engenharia e planeamento rodoviário; enfiar-me nos túneis do metro de Lisboa, isso sim é aventura.

Sim, como costumeiramente, após o fecho dos filmes e entrega da viatura, impondo-se o regresso ao lar, uso apanhar algum transporte.

Ontem, ao contrário do tempo das vacas gordas, e porque as vacas permanecem mas ao invés de nos darem alimento tentam biscar-nos o pão e o leite, em vez de apanhar um táxi, decidi-me pelo metro. Ora, qual não é o meu espanto ao ser repentinamente confrontado com aquela recorrente frase que usa povoar-me os impropérios que costumo atirar ao vento, quando, uma vez mais, concluo que Portugal, ainda que bem o tentem, não é um país talhado para o turismo, mas exclusivamente para quem o conhece. Sou mesmo tentado a pensar que, apanágio da nossa desconfiança típica, construir um país tão enredado em labirintos, falta de indicações e rotundas tão retorcidas que nos trocam os olhos, fazê-lo está na base da segurança nacional e da precaução às invasões inimigas. Qualquer força de ataque que nos invadisse, depois de perder o norte, ou entrar em depressão logo na primeira rotunda ou diante da primeira placa de sinalização, desistiria imediatamente de se querer entrincheirar neste nosso pequeno Portugal. E porquê, somente porque somos os mestres do minimalismo. Ele é o mínimo de informação possível referentemente a acessos, a contas públicas, a informação burocrática, ele é placas colocadas tardiamente em cima dos desvios, ele é o que se papagueia e não se vê; em fim; ele é o que na realidade se traça e não se nota.

Bem, mas dizia: Chego eu ao metro, procuro indicações que me conduzam a bom porto, e que vejo eu? Setas com caravelas, gaivotas, tudo muito lindinho, minimal e “depuradamente” engendrado, apontando a direcção da última estação, mas só para quem sabe que é assim. E o mapa do traçado das linhas? E o mapa do traçado das linhas?!! Que nem um ignoro na minha própria terra – porque na dos outros nunca me perdi – de olhar esbugalhado e tentando focar além dos olhos em bico, perscruto à direita e à esquerda, reparo no olhar piedoso dos que dominam a situação, ainda ouso considerar se não serei ainda o artolas que querendo ir para o Carregado foi dar a santa Maria da Feira, mas cedo concluo que não, e que, para não dar por fácil o regresso a casa, tenho que descer a uma plataforma à escolha, e se por ventura não for a correcta, lá ter que subir e descer de novo as escadas, porque o tal do mapa só existe mesmo nas plataformas ou ao alcance de olhares distraídos que por mero acaso os desencantem.

E se desencantem é o termo, perante esta ordem de factores não será desencantado o meu sentimento nacionalista.

Mas que aquela sinalética minimal fica bem na paisagem, aí disso não tenho dúvidas.

PBC

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