quinta-feira, 25 de abril de 2013

Rio-me...



Olho para o céu e rio-me, não que se oiça, mas para dentro, para o mais profundo sentir de ser, lá para onde estar é guardar o cheiro de todas as estrelas que, de as conhecer de cor, seguram-me ao norte desta estrada sem bermas conduzindo-me o sorriso à certeza de as vir a beijar, um dia, não hoje, não amanhã, mas após o peso de prosseguir ser mais forte que um vago olhar, aí, então, este e não outro, já concavo de tanto saber que se me vivem estrelas no estômago, certamente, não será por nenhum outro motivo que não a sina de lhes dar guarida, alimentando-as. E olho para o céu, rindo-me, rindo-me em todo o silencio que me separa daqui até lá a cima, quase acreditando no existir um em cima ou um em baixo, como se para gargalhar fosse necessário crê-lo. Sim, rio-me, rio-me qual mão lisa amimando-me a fronte após tempos de perdição, edificando-me, seio-o agora. E a lua, cheia, feroz e sarcástica, parece rir-se irmãmente, sacana, indesmentivelmente furtando a todos os outros astros valência no firmamento. Nunca percebi porque ousa fazê-lo, se por vaidade dela, maldição ou sorte minha, ou se somente para que me acautele de cegueiras sobre a imortalidade do corpo ou da mente, já que é recorrente afiançar-me serem-no. E eu desacredito, não porque mo pronuncie, tão pouco porque mo negue, mas porque pelo normal das sinas físicas o constato; e por tal me rio, rio-me pois, porque um dia, como vivo, sem culpas finalmente, me finarei, deixarei para trás todos os caminhos mal seguidos que não soube tomar e todas as esquinas que me deram convicção ao existir por uma breve fracção de eternidade, bem merecida por sinal. E tenciono faze-lo com semelhante riso ao de hoje, e na idêntica tranquilidade com que abrirei mão de quem sei não ser nem quero a ninguém vender, que não tomo por peso a ilusão. Que mais vale a justeza do meu céu do que sombria terra alheia. Que menos certo é meu ego que a segurança de me conservar no necessário a levar para a cova. Que já não me amedronta o dia nem a noite, nem a morte, nem o frio, nem as percas, nem a fome ou a doença. Que para a assim não ser estão cá outros, a infernizarem-se pessoalmente. 


PBC