quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Menino



Hoje encontrei um menino que, mal se distinguindo na expressão tratar-se dum ancião ou dum recém nascido, carregava no olhar tanto de sábio como de frágil. Era um menino de olhos profundos, doces, sorridentes, compassivos, malandros e implacáveis e, como quem as atirava ao ar, em cada mão brincava com uma bola invisível de cristal. De todas as vezes que alguma delas descia e lhe tocava os dedos ficava sério e circunspecto, sorrindo, e sempre que as fazia elevarem-se maravilhava-se. Quando o abordei, dizendo-lhe não compreender o porquê de ficar assim tão sério sempre que o que eu não via me parecia tocar-lhe nas mãos, e se, estando ali daquela maneira a atirar ao nada coisa nenhuma não se importava com o juízo alheio, olhou-me amorosamente e, sorrindo, disse-me: - Sabes, pouco me importo com o que pensem ou que não me entendam. A importar-me seria com o facto de os que o fizerem não se entenderem a eles mesmos, nem à vida, nem entre iguais. Depois, iluminando ainda mais o sorriso, estendendo-me uma das bolas, prosseguiu: - Queres ver? Olha, toma, experimenta tu. Não lhe vendo nada nas mãos, por mera simpatia aparentei agarrar o que me entregou mas, ao tomar-lhe o peso, vacilei. Era tão pesado que de imediato o largue. Tentei reerguer a suposta bola mas ela mal se mexeu. O menino, consternado, dando uma luminosa gargalhada, continuou: - Percebes agora não percebes? Confesso ter continuado sem perceber grande coisa. E ele, intuindo-o, com quanta ternura lhe saiu na voz, rematou: - Percebo-te. Agora, o que não calculo é se entenderás tu que se não fosse este espírito de missão, amor e imensa paciência para vos aturar, eu regressava era para aquele futuro distante, onde não existem dinossauros. 

PBC

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Que todas as escolhas, por criarem causas, têm uma consequência.



Pequenino, intimamente ligado à Terra e fazendo parte integrante da sua estrutura molecular, o ser humano não é nem nunca foi o problema. Pelo contrario, na sua evolução com a terra é e sempre foi a solução, mesmo quando, não parecendo, pela ignorância e estupidez perpetra o que a si mesmo inflige, tal como aos demais e ao ambiente. Ainda que mal o entendamos, isto não é mais do que o fazer cumprir uma vontade e necessidade energética do planeta, apreendida do que dele brota e consumimos (porque depois, a acção, o gesto e o pensamento geram uma determinada carga energética). Muitas vezes pensamos existir culpa nas nossas acções e pensamentos mas, se por um lado, o homem não tem culpa nem é responsável de ser em concordância com as suas características pessoais e colectivas, por outro lado, já que as nossas especificidades pessoais não são uma fatalidade, por memorizarmos e aprendermos, também, dotado duma consciência dinâmica e residual que lhe permite transformar-se, o homem é igualmente responsável por se mudar, não só em benefício próprio como, analogamente, em beneficio dessa mesma consciência. De facto, o homem, é quem é em conformidade com o que lhe é exigido pelo planeta. Daí que, até o maior filho da puta, porque se limita a cumprir o seu papel, não o sendo para nós de fácil aceitação nem de fácil entendimento ou prática, merece ser alvo de amor, compreensão e perdão. Porque na sua ligação à Terra só faz por cumprir o que esta lhe exige. Contudo, porque na sua evolução conjunta – Terra v homem – a consciência humana aumenta na mesma proporção quântica da do planeta, isso também lhe dá sentimentos de equidade, equilíbrio e desequilíbrio que se apossam do seu estado mental, físico e emocional, facto pelo qual, a esses níveis, também a sua saúde será concordante com a e com a da dinâmica planetária. Por estas razões, embora não parecendo, sem se aperceber desta dialéctica energética operando ao nível de todas os fenómenos presidindo-nos bem como à relação estabelecida com as coisas interligadas entre si e ao cimo do planeta, o homem começa agora a tornar-se um ser cada vez mais amoroso. E é nesse sentido que ninguém é melhor do que ninguém e só faz o que tem para fazer em consonância com uma consciência planetária e cósmica à qual o homem não é alheio nem imune. Grande na proporção energética deste canto do universo, mas não assim tão grande na dimensão para se dar à arrogância e ao luxo de se considerar livre dos fenómenos que a tudo afectam, e dos quais, na maior parte das vezes não temos consciência, ainda que não sabendo quem é e por isso tenda a julgar ou atacar congéneres, o homem só é o que ditam as condições energéticas duma consciência pluri-partida interna e externa a ele. A ignorância do facto tem-nos impossibilitado de fazermos melhor, o que é normal, já que a evolução geológica, energética e biológica do próprio planeta, sendo lenta, só abre a consciência humana ao mesmo ritmo do da sua. Se repararmos, ainda não há muito tempo o que por cá havia eram explosões sulfurosas e depois dinossauros a comerem-se muito mais violentamente uns aos outros do que se digladiam os homens entre si. Comparado com isso, o homem, na sua estupidez e animalidade, não é nada. Porque o humano é e sempre foi a solução. Por isso digo-vos que a ignorância ou alheamento desse facto também só pode ser alvo de compaixão e amor. Porque quer o aceitemos quer não, estamos todos ligados uns aos outros, ao meio, ao planeta, e daí por diante. Nesse aspecto, conflituar com os demais e com a envolvente não é mais do que conflituarmos connosco. O resto, é só uma questão de consciência pessoal sujeita ao livre arbítrio da escolha individual, escolha essa sempre com impacto na consciência colectiva, numa dialéctica de permuta. Que todas as escolhas, por criarem causas, têm uma consequência.

PBC 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

...a partir de 21 – 12 – 12, uma era de milhares de anos em que a necessidade da Terra se afirma como sendo o amor......


Estarmos em paz connosco e com o mundo é essencial. Se não nos soubermos perdoar nem aos demais, como comummente sabido, acabamos a viver no ressentimento, na culpa e na raiva, contribuindo assim para um estado de tensão e desbalanceamento do corpo, mente e envolvente, que conduz à doença pessoal e do meio. Tentarmo-nos abstrair do perdão e enveredarmos pelo cinismo ou cingirmo-nos a fingir nada se passar que justifique a humildade do perdão não faz mais do que simular uma paz podre e não é solução, por acabar a corroer-nos a nós também. Por vezes, para perdoarmos temos que desocultar, olhar de frente e confrontar o motivo do ressentimento. Dizer a verdade com intenção de esclarecer factos ou sentimentos, porque embora podendo doer-nos ou podendo fazer doer também é um acto de compaixão, faz analogamente avançar para o perdão, para paz e para o amor. A boa notícia é que o perdão, embora de difícil prática, está ao alcance dos determinados em crescer e proporcionar crescimento. A má notícia é que não basta determinar mas também agir em conformidade, o que, para o medo e orgulho que nos compõem, pode parecer um empreendimento à partida perdido e, por isso mesmo, desnecessário. No velho mundo, onde o olhar para dentro em juízo de valores pouca expressão tinha, porque a relação entre causas e consequências se fazia manifestar mais lentamente, as nossas palavras, pensamentos e acções não obtinham uma resposta tão imediata que nos fizesse agir em conformidade com as nossas próprias necessidades de estabilidade sentimental, mental e física e, embora no mais profundo dos nossos seres soubéssemos não ser assim, energeticamente, esse mundo estava desenhado para nos podermos dar ao luxo de achar o contrario, permitindo-nos assim mandar o medo e a arrogância para trás das costas ou colocá-los à frente dos nosso propósitos, como se daí, em última instancia, não adviessem consequências físicas e mentais para nós mesmos. Esta é uma ilusão que começa agora a desvanecer-se. Senão, vejamos a crescente proliferação de grupos e movimentos espiritualistas, humanistas, ecologistas, de solidariedade, as medicinas alternativas e até a crescente investigação por parte das ciências exactas visando obter redenção, conciliação e, quer interna quer externa, salvação individual e para o planeta. Não ocasionais estes factos. Tal transcorre de informação transmitida pela terra ao nosso ADN, informação essa captada através dos alimentos e do meio ambiente e decorre duma necessidade planetária. De facto, o homem, até aqui tem considerado ter mais poder para acabar com a Terra do que tem querido saber que, o planeta, tem mais poder para acabar com ele do que o que imagina. E se até aqui, inconscientemente, a filosofia reinante assim tem feito parecer, daqui para a frente e a partir desta fase que se inicia agora passará a ser o contrario. Remontando à história da Terra, lembremos que ela já viveu muito pior do que a raça humana. Não parecendo, porque vivemos a dor de o sermos, o homem tem sido dos menores problemas para a terra até aqui, e assim continuará a ser até que ela mesma, em função de necessidades macro planetárias e cósmicas, decida o contrário. Ainda que nos alheemos deste facto, a nossa existência não é alheia nem indissociável da existência do planeta. A vida não se trata de ser “as nossas necessidades”, como nos é comum pensar, mas sim, para quem nela habita, trata-se de serem as necessidades da terra, que dela as partilha connosco. Estamos intimamente ligados à sua composição e estrutura morfológica e energética de formas tão profundas que acaba a ser ela a ditar-nos as suas necessidades, aqui e no caso do perdão, advenientes do que em seu benefício produz a reconciliação dos homens consigo mesmos e com o ambiente. Daí o estar agora a reclamar o perdão como força geradora de uma energia da qual carece e, ao dar-nos o sentimento de dele carecermos também leva-nos a fazer por lha conceder. Evitá-lo, é ditarmos a velocidade com que o planeta se encarregará de correr connosco, nas várias formas por ele disponíveis: De doenças a catástrofes e guerras. Que ele fica e continuará, com ou sem humanos, e atraindo sempre o que lhe beneficie e sacie as necessidades. E o amor e o perdão, não tenhamos dúvidas, por hora começa a ser o mais reclamado. Quer brinquemos ou não com o facto ou dele duvidemos, inicia-se agora, a partir de 21 – 12 – 12, uma era de milhares de anos em que a necessidade da Terra se afirma como sendo essa, a de uma terra limpa na qual o amor passe lentamente a tomar posse e a governar o que ao cimo dela se passa. Para nos podermos abstrairmos e desresponsabilizarmos podemos até pensar não virmos a viver nela o tempo suficiente para constatar a mudança - já que no tempo do universo tudo acontece lentamente -, por termos meramente como referencias o crescente número e grandeza de desgraças, injustiças, doenças e loucura reinante, mas ao fazê-lo, porque estamos a negar aos futuros e ao próprio planeta um legado positivo que ele mesmo exige, inconscientemente, acabamos igualmente a angariar para nós mesmos a culpa e o ressentimento, que se não perdoados conscientemente conduzem à doença. Estes são factores que de agora em diante passam a imperar com mais evidencia nas vidas pessoais e colectivas, num ritmo cada vez mais rápido e na mesma proporção em que as desgraças ocorrem. Podemos até pensar que os que assim pensam e fazem recair sobre crenças além do material a sua atitude perante a vida fazem-no por necessidade de acreditar em algo alheio ao homem somente por mera evasão e alheamento da realidade. Por fraqueza dirão alguns. Como se o homem fosse o centro do universo. Mas se repararmos, termo-lo feito debilmente ou mesmo não feito de todo, até agora, também tem conduzido à situação actual em que se vive cá nesta nossa terra. Também é fácil pensarmos tal como, como se costuma dizer, conquanto não nos caia em cima da cabeça ou enquanto não acontecer não haverá necessidade de refreamos o ímpeto de pensarmos sermos imunes às causas que plantamos. Porém, pode tardar mas, dita a lei da vida, que tarde ou cedo chega, sempre. Podemos ainda pensar que os moldes nos quais assenta a sociedade capitalista e tecnológica - que no âmbito da tecnologia nunca será válida se não for acompanhada do principio da reconciliação do homem com ele mesmo e com a natureza – serão o meio de manter as coisas e os propósitos da nossa existência humana, mas avaliando o que se manifesta na realidade mundial do momento, percebemos igualmente que o planeta nos está a dar sinais e a comunicar que a acção humana, nos moldes actuais, está falida e não cumpre os requisitos por ele exigidos e, por consequência, do homem, necessitando doutra acção e doutro tipo de pensamento e troca de sentimentos entre humanos. Por isso os crescentes sentimentos de empatia que, a par dos de revolta, surgem por todo o lado, porque essa necessidade de reconciliação individual e colectiva, em manifestação de amor, faz o planeta sossegar-se também. Daí a necessidade de atender ao perdão que, sem necessidade de interpretações transcendentes, espiritualistas ou teológicas, no limite, leva a uma melhor saúde e, em recurso complementar com as tecnologias limpas, a uma maior longevidade.

Se por um lado, o não obtermos resposta imediata para as nossa acções nos levava à rebeldia e à descrença no homem como um ser destinado a auto-prover-se com equidade - sermos melhores -, por outro lado também levava-nos a não sentirmos necessidade de empenhamento na resolução dos nossos próprios males mais alargados bem como dos do que nos rodeia. Mas o novo mundo, desta era que agora se inicia, não contempla o alheamento destes factos, sem que a factura a pagar não seja mais imediata nas nossas vidas e na do planeta. E ele rapidamente cobra. O darmo-nos ao luxo de ficar presos ao nosso orgulho, fazendo-o transcorrer ao lado do perdão, passa assim a ter consequências imediatas ao nível da doença no seu âmbito mais alargado. Tal com na cura, ocorre o oposto. De qualquer forma, cada um enquanto individuo é livre de se tratar e tratar em volta como mais lhe for conveniente e possível à sua própria evolução e momento existencial. Nenhum Deus o julgará. O juízo proceder-se-á dentre o homem e si mesmo e entre a terra e o homem. E por aí adiante até ao cosmos do qual, como partícula mínima sujeita à sua influencia, também fazemos parte. :-)

PBC

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Porque já desci ao inferno e dei-me a desvendar o céu...

Sei ter nascido para uma vida plena que me permita demarcar o trigo do joio, não por ser ou para ser pejada de aparências e encerrada em bolha de caprichos mas porque, nas várias vertentes possíveis, concluindo com rara distinção formatura superior em fantasia descobri-a conduzir-me tão-só à ilusão. Porque já vivi em palácios que me pareceram barracas e dormi em barracas que me pareceram castelos, deslindando por fim como melhor tecto as estrelas. Porque já tive tudo e acabei sem nada. Porque já comecei do nada e acabei a ter mais do que carecia. Porque já desci ao inferno e dei-me a desvendar o céu. Porque já exigi o céu cedendo por troca o inferno e já me senti no paraíso estando só no inferno. Porque já quis estar de bem com Deus e com o diabo mas sem me ter feito valer. Porque já defrontei a cura do corpo na redenção da alma e a ruína da alma na pesquisa do corpo. Porque já vi homens perdidos na busca de tudo e outros encontrando por nada buscarem. Porque já comi sutras e evangelhos só para logo concluir a inexistência de doutrinas além do amor e da paz e que homens pervertem-nas e corrompem-nas a ambas. Porque dormindo já encontrei a raiz duma razão e acordado já perdi toda a razão. Porque já vi estruturas tidas como inabaláveis serem quebradas e darem lugar a novos edifícios. Porque já encontrei doutores que não sabiam nada e auto-didactas que sabiam bastante. Porque já vi privilegiados mal fadados e vagabundos felizes. Porque já vi ter tudo não tendo nada e ter nada desfrutando de tudo. Porque já achei livros e palavras dizendo peva e folhas em branco que diziam mais. Porque já vi burros carregados de livros e asnos deturpando-lhes o carrego. Porque já tive mulheres que não amei, fui tido por outras que nunca me amaram e amei algumas que nunca tive. Porque já amei sem estar perto e já afastei para não odiar. Porque já vi a arrogância ser-me vencida pela simplicidade e a simplicidade ganhar ímpetos de petulância. Porque já vi sábios andando a pé e broncos sentados em limusinas. Porque já encontrei música no silêncio e silêncio na música. Porque já vi homens de bem e bens que nunca fizeram homens. Porque já recebi honrarias por ninharias e tive ninharias por troca da honradez, percebendo na honra um paliativo para a fraqueza. Porque já quis ser forte na desonra e fui fraco na estima. Porque já me levei tão a sério que me tornei ridículo. Porque já fui quem não sou para ganhar aceitação e obtive o mundo sem perdão para mim. Porque já confundi o amor com a paixão chorando pela posse e ri de alivio por não ter possuído. Porque já fui possuído para simples alívio e já me aliviei por não ter que possuir. Porque já dei de bandeja para não ser colhido e colhi de bandejas vazias o fruto que me era devido. Porque já encontrei o tempo devorando o espaço e o espaço a não caber no tempo e o tempo como porta para nada. Porque já vi anjos acusados de demónios e demónios passarem por anjos. Porque já vi diamantes sem brilho e brilho onde não existiam diamantes. Porque já encontrei glória no ouro e ouro sem glória. Porque já me sentei com a virtude crendo-a desvalida e validei o opróbrio por conta de inutilidades. Porque já voei parado e voando cheguei a lado nenhum e de lado nenhum, parando, cheguei a todo o lado. Porque já namorei a morte para reclamar a vida e vi chegar a existência por não ter banido a morte. Porque já juntei a fome com a vontade de comer e comi sem fome nem vontade de comer. Porque já tive poder não fazendo por tê-lo e já vi em pevas o poder que me basta ter. Porque já entreguei tudo por um pote de nada e dum pote de nada já extraí tudo. Porque já vi o dito pelo não dito e do não dito conclui o dito. Porque já não soube quando parar e parei por não saber andar. Porque já  amontoei seixos caiados de ouro que me cravaram de negro e carreguei negrumes que volveram ouro. Porque já tive rotinas com actividade e actividades sem rotina. Porque já levei ao colo irmãos que me deixaram cair e soltei outros que nunca me levantaram. Porque já me baralhei no sentido da miséria e descobri na miséria um rumo para a verdade. Porque já procurei a autenticidade no rosto da falsidade e encontrei a realidade debaixo da mentira. Porque já realizei que, para me encontrar, frequentemente tinha que me esquecer do que sabia. Porque já julguei saber descobrindo por fim nunca ter sabido mais do que nada. Porque já vi de olhos fechados e, perdendo-me, ceguei de olhos abertos. Porque já vi a luz escondida na treva e a treva disfarçada de luz. Porque seriam precisos outros tantos anos de vida para te conseguir dizer que sei que nasci para uma vida plena não porque o meu caminho sejam pétalas mas porque, quando me mostras o nariz empinado por nada mais saberes e teres do que algo de nada, em vez de me impressionares, constróis-me o sorriso...

PBC

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Preparado para ser pai?



De facto, há sonhos que se transformam em pesadelos e pesadelos que nos mostram quão ingénuos somos ao depositarmos expectativas nos sonhos. É mesmo. Querem lá saber. É que hoje tive um desses sonhos acabados em pesadelo e...


Estava eu feliz e contente no meu mundinho, com um sorriso parvo até às orelhas, na presença do Deus todo altíssimo e magnânimo, a ouvi-lo dizer que “o já ter uma respeitável idade em que saber o que queria e não queria da vida, cimentado com o conhecimento e esclarecimento acerca das coisas, ia permitir-me beneficiar descansadamente do desejo de ver crescer o meu núcleo familiar no aconchego e paz dos anjos. E que após engravidar a minha mulher, eu, enquanto progenitor, teria  - notem bem, teria - uma sacra gravidez e uma plena paternidade, como manda o figurino, onde o espaço para vivê-lo intima e tranquilamente seria incólume, sem perturbações nem interferências de quem quer que fosse”. E como era o altíssimo magnânimo a dizer-mo, parvo, burro que sou, claro está, porque continuo igualmente a colocar infundadas expectativas nas questões, ia acreditando nele. E assim foi até ao momento em que como em todos os sonhos, repentinamente já a criança nascera e, ali mesmo, no quarto dela, em adoração e regateando piedosas parecenças com elas mesmas um cem numero de pessoas puxava a brasa à sua sardinha. De um lado, como numa batalha campal, avós maternos e paternos diziam ser parecida com eles e de arquitecto a fuzileiro ia ser de tudo. Do outro, cerrando fileiras, os irmãos, uns a dizerem irem dar-lhe pêssegos todos os dias, outros abacates e ginjinhas e outros ainda saias pintadas e botas cardadas. Tios, bisavós, a criada da vizinha, o padeiro e até mesmo o meu gato Zé Manel, por seu turno também iam dando umas bicadas dizendo há vez ou em coro: Não não, é é parecido comigo e vai ter diariamente discos do Nelson Ned, botas de caça, repenicados e atordoantes beijinhos, caçadeiras, e até havia quem dissesse açaimes. No alvoroço nem sequer me viam posto a um canto, de olhos completamente esbugalhados e cheios de interjeições por nem sequer conseguir aproximar-me na tentativa de ver se a criança não seria mesmo era parecida comigo. Mas não, nunca cheguei a ter oportunidade de constatá-lo porque, formando uma barreira na qual a sufocavam lhes parecia mais importante formularem parecenças que lhes dessem certeza dos seus géneses em supremacia serem o salvo conduto para todo o tipo de direitos imaginários do que lhes ocorria constatarem que a criança, estupefacta como eu, já começava a peidar-se, a arrotar e a desejar nunca ter caído ali. Nem quando a pobre desatou num berreiro aquela gente deixou de se digladiar quanto às parecenças. Um quadro dos infernos, dantesco diria mesmo. Foi quando já importunado com tudo aquilo decido chamar o altíssimo e perguntar-lhe o que se passava ali. Afinal, não me tinha afiançado ser uma santa gravidez e uma salubre paternidade e que tudo correria como num sonho? Algo trocista, do alto da sua sabedoria respondeu-me que “o meu problema era e sempre tinha sido nunca escutar com atenção o por ele dito. Tinha dito que TERIA e não que iria ter”. "Ora, - disse-me o magnânimo - há uma grande diferença entre uma coisa e a outra e só os tansos não se apercebem. E se não sabia distinguir a diferença entre uma coisa e outra então era porque afinal nunca tinha estado preparado para vir a ser pai. Portanto, desemerdasse-me. O problema já não era dele mas meu.” Retorquindo ainda tentei alvitrar novamente os meus direitos mas o todo poderoso, já pelos cabelos quer comigo quer com o passado em redor decide lançar um raio seguido dum corisco e ploft: Uma nuvem de fumo espalha-se, a malta fica toda banzada e um silencio lúgubre invade o ambiente. Reparo que as pessoas começam a afastar-se desoladas e quando por fim tudo parece amainar vejo a criada da vizinha consternada e de mão na cara a dizer: “Ah, é mesmo parecido comigo”. Aproximo-me e, de olhos esbugalhados, vejo então, diante de mim, sentado no berço e de nariz torcido, um bebé tão escurinho como uma tição, com a cara do José Eduardo dos Santos, mas com barba. O meu queixo cai e tenho de me segurar à parede para o caso de acontecer desmaiar de pé. Aproximando-se em tropel e travando a fundo, o Zé Manel olha para mim e diz: “Bem, pelo menos não está tudo perdido. Se vires atenta e gratamente, assim não terás de levar com eles a reclamarem sobre o menino direitos de primazia, sucessórios, de posse, guarda ou educação. Até agora são só lucros, portanto põem-te lá manso e trata mas é de acudires ao teu filho. Ainda nem mamou. Cheguei a achar ter antes estado a falar com o demo em lugar do divino, mas não, tinha mesmo sido com o altíssimo. Ainda mal havia tido oportunidade de me refazer do choque e, levando pela mão uma geringonça tecnológica de origem chinesa a que só os angolanos têm acesso, entrando pelo quarto dentro, surge o próprio do José Eduardo. Aproxima-se do barbudo, dá-lhe um grande abraço, um beijo na boca, e diz: "Vem a meus braços, meu neto, tu, o primeiro neto luso africano da minha dinastia, aquele que há-de resgatar os males dos meus sonhos agora que me aposentarei e me dá jeito a dupla nacionalidade. E a criada da vizinha, como um peixe abrindo repetidamente a boca para fazer bolhinhas, continuava estupefacta e a proferir num murmúrio: -“Afinal é mesmo parecido comigo”. Já farto de assistir a tudo aquilo, na tentativa de resgatar a minha virilidade ferida e perdida, como se diante do quadro algum direito de satisfação ainda me assistisse, de sobrolho levantado, dirijo-me ao presidente quando, antes de alcançar o esboço da primeira pergunta, sem apelo nem agravo o gajo saca da geringonça, dirige-a para mim, carrega num botão encarnado e um flash transforma-me num espermatozóide. Retira do bolso duas lamelas de microscópio e espeta comigo entre elas, atirando-me seguidamente para junto do muda fraldas. Claro está que daí em diante, espremido entre os vidrinhos, com a boca completamente retorcida de forma a parecer estar sempre não se sabia se enjoado se sorridente, eu, desgraçado de mim, passo a sentir-me não um espermatozóide mas uma amiba espoliada a quem não importa atender. A mais, o presidente, ansioso de poder satisfazer as suas carências e dependências amorosas nos braços do neto começou a ir quotidianamente lá a casa. Já não me bastava estar naquele estado e ainda por cima tinha de levar com tudo o resto. Invariavelmente, acreditem, nesse pesadelo passei a ter todos os dias o Eduardo dos Santos a entrar pelo quarto dentro e a atirar para cima de mim nuns dias uma brochura enaltecendo as virtudes da desova da sardinha na educação das crianças, noutros uma sobre os benefícios dos camafeus de lapela na segurança delas, noutros outra sobre os benefícios da carraça nos afectos e, noutros ainda, sobre o peso que os diamantes tinham no fortalecimento da dentição delas. Vocês estão-se a rir mas não sabem o que é estar ali transformado em espermatozóide que se sente uma amiba, a ler tudo aquilo sem poder sequer balbuciar o desconforto de ter a vista toldada pelo desespero. A sorte era que por vezes o Zé Manel chegava e com uma patada afastava a brochura abrindo uma nesga pela qual me chegava alguma luz e me ia inteirando da interacção do homem com o petiz. Um dia por exemplo, com a criança completamente enojada com a baba dele e a dizer não querer mais amaços e a gesticular desaustinada, espreito, e dou com o homem agarrado às barbas do miúdo e a sorve-las como quem chupa as barbas a um camarão de Peniche. Um cenário arrepiante. Isto para não dizer da vez em que, fazendo-se substituir ao puto, enfiado no berço, o José Eduardo começou a fazer-se de bebé e, acusando-o de traição começou a exigir dele uma solução para a economia mundial. Degradante, digo-vos. E à minha mulher nem nunca mais a vi na zona.



Agora digam-me lá: Com um pesadelo destes, acham mesmo que estou preparado para ser pai? E que o acordar por vezes aos berros é anormal?



PBC

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pouco me importa...


Pouco me importa que da verdade te evadas, ou mesmo a tua, se for a minha falsidade e se, por vezes, para que te pudesses insurgir contra o amor e lhe chamasses cruel, como um Deus compassivo fazendo sofrer pela verdade gostaria de ta enfiar olhos adentro. Mas pescando-te as fragilidades erigindo a mentira, ternamente, deixo-ta como verdade. E no entanto, esta, vale o que fortifica e limita, por ser apenas a minha, essa realidade que nem que me faça tombar ou sofrer me trará outro existir que não a compaixão da autenticidade. E tanto se me dá como não o pretenderes-te diferente, que sou alma divina exigindo ser acolhido pela inteireza em corpo de homem não preparado para lhe abrir a porta. Mas sim nesgas de janela. Depois, se não mais que a mim a ti respeito, também não te exijo a condição da justeza, nem à tua mentira me consinto. Por isso, tem a amabilidade de não te venderes nem amuares como um Deus menor mal conseguindo ser homem vencendo a fraude; já que a mim meramente a consistência convém. 

PBC

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A lutar sim, mas não esquecido do que fomento.


Poucas coisas são mais dolorosas do que, ao olharmo-nos ao espelho, o profundo confronto com o próprio reflexo.

E embora não aprove nem esteja de acordo quer com as patranhas quer com a incompetência e defesa de interesses obscuros manifesta pelos governantes deste país, dos que nos vendem em benefício dos seus próprio interesses e dos que secretamente os acobertam somente para preservarem posições de privilégio na cadeia alimentar, parece-me a mim estarmos somente a colher o que enquanto sociedade civil temos vastamente vindo a semear por via dos nossos comportamentos e alheamento dos valores em falência, paralelos à situação financeira.

Não, não sou dos que apoia ou concorda com esta cambada de governantes que me desfeiam o televisor. Muito pelo contrario, estou farto, mas não somente das suas politicas maquiavélicas, experimentais e beligerantes no âmbito macroeconómico. Acima de tudo estou farto dos séquitos que rodeiam a nossa classe de poderes. Farto de viver num país de gente incapaz de olhar com racionalidade e justiça para os seus pares, para os que mal se manifestam e para aqueles que na maior parte das vezes são uma afronta à imbecilidade, à futilidade, à pobreza de valores, à vivência duma imagem não correspondente ao possível, hoje largamente instituída entre os cidadãos portugueses. E não me refiro exclusivamente a políticos e chefias institucionais, mas a muitos mais do que os que gostava de saber existirem por cá. 

Não sei se sou só eu a ter este sentimento opinativo mas é lógico que o reflexo da atitude vigente na maioria da população com expressão modeladora das regras do jogo seja o sermos governados por incompetentes, arrogantes, defraudores e figuras lacaias do compadrio financeiro e estatutário.

Chega-se finalmente à conclusão de que se impõe agora uma verdadeira e urgente mudança em Portugal, que digo ser, não simplesmente das medidas governativas. Antes e sim, a par destas, uma mudança estrutural no pensamento, na atitude e na mentalidade dos portugueses, este povo facilitista esquecido da civilidade, complacente e arrogante, esfomeado de posse, ostentação e plástico poder circunscrito a compadrios, que dá vivas à mediocridade levando os medíocres a pensarem serem melhores do que o são e, por consequência, a fazer-se proliferar o que lhe dá sustentabilidade. Um povo que se compadece com o obscurantismo e que faz assentar a ordem das coisas numa cultura de laxismo e chico espertice. Um povo que com o passar do tempo, nos mais variados quadrantes da vida, tem vindo a premiar e a contemplar num crescendo a incompetência, em desproveito da competência, da racionalidade social e individual. Insensível ao que é a verdadeira socialização e ao vizinho mais próximo. No fundo, um povo promíscuo que, como forma de se abster da honesta apreciação de si mesmo, antes de fazer uma auto avaliação tende ao julgamento da promiscuidade por ele eleita. Será que não somos uma amálgama de gente que antes sequer de haver leite nas tetas da vaca, assim que nos é dito haver uma remota hipótese de o podermos sugar não começamos logo a extorquir a teta nem que vaca esteja moribunda? Acho sermos. Acaso entre nós meritocracia não é um palavrão mais obsceno do que qualquer vernáculo? E na estrada, não temos sempre a pretensão da minha ser maior do que a tua? E aonde tem levado isso? Esqueceram-se?

De facto, se entendermos que os nossos governantes eleitos democraticamente, tanto quanto manifestarem a maioria duma vontade, acima de tudo reflectem os desejos individuais dessa mesma maioria, não é vão considerarmos termos no poder aquilo que pedimos e o que merecemos.

Entedia-me este apontar de dedo sem que cada um de nós faça antes uma prévia avaliação dos seus comportamentos enquanto indivíduos e cidadãos. Quantos votam tendo em conta o colectivo? Quantos bons retratos do Passos Coelho não existem entre nós? Quantos de nós, nos nossos bairros e empregos não somos frequentemente uma amostra dele? Tenho legitimidade para o dizer porque não só não votei no homem como conheço alguns bons sacanas banais que na maior parte das vezes agem somente para ludibriar e insuflar o ego, não se importando com o que ou quem atropelam pelo caminho exclusivamente para se sentirem alguém. E com aprovação dos que lhes circunscrevem os interesses. E porque não sou nem nunca fui subsidio dependente. E porque nunca pactuei nem consenti de boca fechada com panaceias nem sodomizações à minha pessoa só para ser visto ou ouvir dizer ser alguém de mais valias que não possuo. E porque não avanço pela cunha. Não, a mim não me apanham nessa.


Não que de momento não exista validade em alguma da revolta popular; é que cresci com o sentimento de acreditar ser ridículo e infantil a queixa sem legitimidade. Mais, não trás mudança que não seja para mais do mesmo. Por isso me intriga saber que mudanças procuramos antes de mudarmos em nós tudo o que espelhamos na raça dos nossos governante.

A lutar sim, mas não esquecido do que fomento.

PBC

terça-feira, 24 de julho de 2012

Uma classe suspendida.


É triste mas não serão os políticos nem os poderosos a acabar com o que resta de toda esta panaceia económica. Antes, porque estes unicamente se aproveitam da burrice alheia, será sim a testosterona da classe média gesticulando o desespero em arremedos de mediania e mediocridade e em ilusão tamanha que ainda julga possuir ou conquistar os seus pequenos troféus quando na realidade o mais que consegue possuir é a hipoteca da própria sombra, essa da qual foge mas deixa um rasto de frondosa estupidez alastrando tão visivelmente que, aí sim, qual acepipe deixa caminho aberto ao maquiavelismo dos poucos realmente poderosos. Afeita à miragem dum pecúlio que nunca chega, viciosa e viciada no consumo e na comparação com a galinha da vizinha é esta a classe que de sobrolho levantado e olhar por cima da pálpebra, em canto de cisne desasado e tentando a todo o custo camuflar a cólera ainda se agarra a pequenos poderes de vão de escada e quintal como se daí lhe adviesse a falsa superioridade com que em esgares perdulários defronta os semelhantes. E de pouco lhe vale os que nela marcam positivamente a excepção, simples arautos da excelência ou da esperança solidamente fundada, mas, porque também confrontadores com a pequinês e redundância de padrões a que se entregou, mau grado uma farta ostentação de penduricalhos de pechisbeque paliativo, para ocultar a vergonha, abafados. Reivindica respeito mas considera-o para tansos. Despreza-se na identidade e tenta passar pelo que não é. Ao contrário da classe baixa a quem o sorriso sacia a fome e da alta a quem este atesta a abastança, intimidada com a simpatia, constantemente sobressaltada pela desconfiança e sempre de trombas mede por elas o status. Lambuza-se e aliena-se em quimeras personificadas por prima-donas de divertimento ou em camaradagens de ocasião para acrescentar mais rostos ao rol dos que nunca estarão presentes quando forem necessários ou aos que haverão de calhar na berlinda dalgum dia para expurgar o azedume e a frustração. Uma classe suspendida na arrogância caduca e a rombas tábuas de salvação que, convença-se, não lhe permitirão não sucumbir a não ser que se reavalie a si mesma e aos princípios que lhe dão corpo. Porque os dos extremos; uns porque já nada têm a perder e se resignam à condição de párias do sistema e outros porque de facto imperam, podem e têm; esses não contam a favor da balança do que ainda há para sacar ou orquestrar. No meio, iludida e mais permeável a ser convencida pelos acenos de possessão atirados pelos mais possantes da cadeia alimentar, em vez de assumir o seu papel equilibrante esta classe média senil limita-se a arrogar a cagança com que exibe os óculos escuros na ponta do nariz e a ridícula presunção com que conduz os “Audi’s” raramente próprios. Não se olha de frente mas de soslaio como aos demais. Auto-deseducada pelos excessos da ganância é de facto esta categoria apegada a tudo o que se lhe engoda que se perderá levando com ela a ainda possível justiça de forças, deixará de existir e sem marcar pontos fará jogar o derradeiro declínio das classes e a combustão da dignidade dos que acreditam num mundo melhor. Porque se digladia entre ela em vez de apontar para onde ou para o que interessa: Os valores de equilíbrio com que merecer a dignificação da competente condição de humanos ou animais mais do que pensantes. Uns, os domadores, atiram com nacos de carne já podre e os outros, as feras, esgadanham-se e devoram-se nem que seja para ostentarem as sobras diante da alcateia. Já não há luta de classes mas luta no seio da própria classe, a que, deslumbrada pelo reflexo do usufruto, mal rosnando esterilmente a quem lhe atira com o bofe, entre uma refeição e outra abocanha os seus filhos e irmãos e oferece de mão beijada a própria extinção. E o pior é que na ignomínia dos seus mais pequenos gestos denota congratular-se de ser progenitora dum futuro penhorado para os vindouros.

PBC 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sejam portugueses pá!


Não entendo. A sério que não entendo por que é que esses alunos com dificuldade em pagar as propinas da faculdade não se mostram á altura de merecerem o título de doutor. Como é que se pode confiar o futuro a gente tão pouco apta a discorrer sobre soluções de conquista e expansão se eles nem sequer são capazes de dar bom nome às fundações da nação? Como?! Alguém me diz?! Então mas os paizinhos deles não lhes ensinaram a ser bons portugueses e aonde assenta o orgulho nacional? Pelos vistos não. E é por isso que em vez de solicitarem aos reitores que lhes seja concedida a regra de Sócrates e ou de Relvas não; antes preferem queixarem-se das dificuldades. Se fossem bem ensinados já sabiam ser assim que diminuíam os custos dos estudos. Bastava mandarem uns bitates sobre a matéria via telefone ou estarem inscrito durante um ano na universidade e a coisa estava feita. Mas não. Optam pelo andarem ali a pavonearem-se de livro debaixo do braço, a comerem pão seco convencidos ser lagosta. Isso não é ser português. Português que é português anda de nariz empinado por cheirar caviar e até mesmo quando escorrega na merda dos sem abrigo cagada nas paragens de autocarro nos quais para entrarem fazem-no furando as bichas à cara podre.  Lusitano não se queixa. Desenrasca-se! Não é burro. Tem orgulho. Sabe escravizar. Não liga ao mérito que esse gajo é um tanso e o Cunha é amigo do peito. Sabe que a raça o que preza é o laxismo e que preocuparmo-nos em executar é coisa menos nobre. Se há sempre quem faça e quem vier atrás que feche a porta. Ora agora. Onde é que já se viu uma coisa destas; andarem feitos queixinhas. Se tivessem estudado alguma coisa de história viam logo que para se ser um bom tuga primeiro há que deixar o Afonso Henriques orgulhoso. Claro! Porque qualquer pequenino que se preze tem que ser velhaco dançarino, saber vender a mãe e dar a boca a todo o Papa com quem se cruze. A sério; se cabe na cabeça de alguém andarem para aí a lamentarem-se em vez de saberem envergar as cores da nação. Se não sabem ser dignos do país que têm não entendo o que é que estão cá a fazer. Deviam emigrar. Isso sim. Para a próxima vez, na próxima encarnação, quando lá às portas do céu o Sº. Pedro lhes perguntar onde querem nascer o melhor é dizerem que querem ser paridos na China ou no Malawi. Porque nós cá não precisamos de gente dessa com carácter mole. Ora agora, portugueses sem a noção de que o orgulho lusitano ajusta-se na bacanisse à mesa da tasca, na esperteza da Malveira, no bacalhau com alho, na palmada nas costas só para comer um sapo vivo. A sério que não entendo. É verdade, não entendo mesmo.  Se calhar achavam que bastava termos escravizado África e arredores, termos tido o Salazar, aperfeiçoado o astrolábio e ver os morangos com açúcar e já estava tudo bem. Não! Não é assim! Primeiro há que merecer a fama que tão bom nome nos dá. Sim, até porque ela não tem nada a haver com o Karma nem com a pequenez que interessa preservar. Realmente, não entendo, nem entendo ainda por que é que perco tempo entre gente assim, tão pouco expedita. Bem se vê que não percebem nada do porquê de, vivendo de diminutivos, sermos o único país do mundo onde há mais xicos do que Franciscos.

Sejam portugueses pá, e parem de se queixar!

PBC

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Pelo menos eu claudico e voçês não...


Seis e quarenta e cinco da manhã e o despertador toca depois duma noite em que a meio acordo aos berros. Não me perguntem o porquê mas o facto é que por vezes acontece. Talvez o susto de viver em Portugal. Levanto-me qual noctívago desorientado no próprio quarto, faço as devidas ablações matinais, preparo-me a custo para o subsequente e fico prestes a sair. Generosa e paternalisando-me, sem saber o quanto me irrita o sequer aludirem privarem-me da minha fantasia de independência, a Ana decide emprestar-me o carro dela. Menos mau. O dia soa a agraciado. Agradeço-lhe mas não sem alguma culpa por deixar o meu red califonircation car encostado como um pária desolado por não se exibir. Tenho a mania de atribuir aos carros a capacidade de nutrirem sentimentos por mim. A psiquiatria certamente tem uma explicação para isso mas o certo é que, maluco, não, não sou. Despedidas feitas lá sigo até que cerca de quatrocentos metros à frente me lembro de ter deixado o tabaco em casa. Retrocedo já inflamado pela adrenalina do stress, subo a escada a paço largo para não cochear, apanho os cigarros mas não encontro o isqueiro. Duas opções fazem-me hesitar entre ambas. O volume da caixa de fósforos da cozinha no bolso das calças a ludibriar a visão do meu falo ou o isqueiro electrónico e sonoro que o meu sogro me trouxe duma das viagens dele: Uma geringonça metálica com cara de leão e corpo e rabo de peixe que de cada vez que o abro, a título de ser o hino de Singapura, em concórdia com a chama, solta irritante, estridentemente e de forma roufenha um acicate aos pássaros do distrito todo. Opto por este preparando-me para a ambiguidade de sentimentos que desse momento em diante me desenhará o resto do dia. Há opções totalmente desprovidas de intenção e eu, quando se trata dos meus cigarros a acender faço tudo menos dar o recto ou pôr-me a jeito da autoridade. É verdade, há quem seja mais imbecil do que eu só por causa disto.

Porque continuo com a panca de tentar descobrir a vanguarda claro está que meia hora antes do marcado na convocatória da consulta, qual terceiro idadista à porta do supermercado, lá estou eu ao lado duns pensionistas aguardando a abertura das portas. 


Como na rua, por enquanto, por cá, ainda nos podemos escudar dos incómodos num cigarro, decido sacar dum e acende-lo com a geringonça asiática. Sempre que o abro ocorre-me de imediato a rua do Bem Formoso e os negócios da china que calés e monhês negrejam por lá. E pronto, já sabia, chega-me o tal sentir a nostalgia da diferença sucumbir à vergonha, a culpa por afrontar os pássaros, a certeza de que os souvenires asiáticos que tentam reproduzir as lendas não têm lugar no paraíso, e no dissimulado esgar o perverso prazer de quem já conquistou o direito a ser julgado por despautério moral e pelo fumar coadjuvado pela gratidão duma oferta. Os olhares dirigem-se estupefactos para mim, uns reprovadores, outros jocosos e outros ainda piedosos. Não entendo o porquê destes. Normalmente é nessa altura que exibo aquela cara entornando os óculos e o sorriso deslavado dos palermas tentando desculparem-se a quem não lhes oferece alternativa ao caso em julgamento. Tento o máximo de cagança ao repô-lo no bolso mas percebo-me volátil. Assumo o isqueiro e pronto. É meu, se não gostam comprem Bic’s e se querem um mandem-no vir. Porque o meu piroso é meu e só meu. Lume ainda vá, pode ser que dê, agora o isqueiro, não! Antes passar pela fealdade dos olhares populares mantendo os bons costumes.

Cigarro apagado e ex que aparece um enfatado tipo pactuante da crise lançando em redor a prepotência do costumeiro olhar para com subordinados. Pereceu-me uma tentativa de camuflar a porrada levada pela mulher já que não tinha cara de conseguir o contrario. Qualquer esgrimir de olhares com ele levava-o ao tapete antes do combate iniciar.

De seguida surge um outro, de bermudas, papeis na mão - talvez algum ensaio sobre manicómios - e rompante de quem se atrasou para tirar o pai da forca. Chega à porta, como se a cegueira lhe fosse um hábito mais cultivado do que somático e os direitos dele estivessem acima dos da escumalha, abeira-se, sacode-a e bufando percebe estar fechada até para ele. Era  daqueles que nas bichas do super e autocarro consegue dar jus ao crédito dos parvos nestas situações. Porque a maior parte das vezes passam à frente com a mesma cara com que ficam quando o clube deles perde. Sabem o sabido mas fazem por negá-lo empinando o nariz. Há quem diga cara de cu. Uma senhora chega atrás dele e pergunta quem foi o último. Fazendo-se de estranho ao momento ele cala-se mas eu aponto logo o dedo dizendo: - Foi ele. Ah, aquele mereceu. Então isto é assim, vai uma pessoa para ali de véspera e ele ignora-o achando que o mundo é a tasca da Tonecas lá do bairro, que ele nunca pinou mas diz que sim, que os outros são a mãe dele? Se não lhe deu educação desse.

A senhora volta a perguntar o mesmo e ele o mesmo, nem pia, e eu outra vez: - Foi aquele senhor. Afronta-me e agasta-me estupidez e injustiça; o que é que hei-de fazer? E o sujeito, notando-me temerário, dando para a frente dois passos intimidadores, como que perguntando se era com ele a minha implicância – até parece que não sabia ser – fantasiando o meu temor nele pergunta mesmo: Quem, é comigo? – Sim, o senhor foi o último. Ora, ele não sabia do meu feitio biliar e que me cai a costela para a malandrice. Coisas lá do bairro e dos tiros aos ouvidos na infância, que nessas alturas me congelam o semblante e num relance fulminam a distancia que me separa dos palonços deixando-me em guarda, fronha franzida e rosnante que não passa despercebida e só um verdadeiro maluco decidirá afagar com xico-espertice. De facto constatei que ele pretendia mais parecer-se com um híbrido dos dois, pelo jeito no parecê-lo, do que o era de facto. Senão tinha ido mais longe e experimentado o sabor dum isqueiro de Singapura pela goela abaixo. Sossegou o facho mas não aceitou a condição de ser mais um. Menos mal.

Portas abertas. Entramos. Uma senhora lutando entre o nutrir piedade e o desferir poder conferido pelo ordenar carneiros à porta do matadouro faz cumprir as regras escrupulosas da casa. Não só me espantou tal facto em Portugal como me levou à desconfiança. É que por cá a pontualidade não bomba mesmo. É coisa de otário. Se a folha diz meia hora antes é pois meia hora antes. Portanto os que chegam antes que desamparem a loja. E lá vou eu para mais um cigarro iniciado ao som da marcha singapurense arrepiando-me os tímpanos, mas à porta do carro da Ana, que sei de experiência vivida que ela, neste assunto tem um pacto com a ASAE e, cigarros, no japonês dela, nem que estivesse à porta da maternidade na tenção de ver aparecer um Cardosinho.

Mas o melhor foi quando já dentro do carro, aproveitando a espera para descansar antes de chegar o cansaço, estou eu de olhos fechados quando sinto um solavanco abalar-me o sossego. Desperto, olho para trás e deparo-me com uma Mercedes branca a recuar de fininho. Saio e constato que o meliante ao volante; culpadíssimo da crise, gordo, pançudo, seboso e urticante, nababo em decadência e sonso, aliás tão escorregadio que se as enguias fosse rubicundas eram assim; se prepara para sair impune às provas do crime. Dou uma rápida espreitadela ao agora já meu pára-choques, não vejo nada, fito o tipo mas o empertigado avança imediatamente com um “não tocou”. Aí é que dou graças ao previdente descanso que me furtou. A querer fazer-me desconfiar das minhas certezas. Ora agora! Não me refreei. Lanço-lhe uma descasca de compassiva moral e a praguejar torno às benesses da espera.

Regresso pontualmente junto à máquina das senhas. Desta vez já não é a senhora das ovelhas mas um senhor tão velho e encarquilhado que para se suster se apoia num sorriso tão piedoso e compincha que chego a sentir inveja. Este tipo de pessoas aguenta-se por aguentar a dor alheia. Deviam existir mais pessoas assim.

O preço da consulta não é o esperado e também aí ganho o dia, não fosse o funcionário do atendimento prestar mais atenção a alimentar a conversa da vizinha ao lado do que aos utentes. O costume. Ocorre-me o Santana Lopes e que aquela gente deve considerar-se acima dos mortais somente por lhes terem dito terem um chefe VIP. É que é comum as pessoas confabularem estatutos por virem a saber que outros sabem, têm ou fazem. Apossam-se do alheio desde que lhes sirva para fugirem do que ou de quem são.

A caminho da sala de consulta confronto-me com o Paços Coelho na televisão e percepciono não estar em espaço augurante de coisa boa. A mais o médico tem o mesmo nome de um ex-ministro pelo que a perspectiva do diagnóstico também me deixa apreensivo e desconfiado.

Enquanto espero; não sei se sabem mas quando se espera num hospital, ao fim de um pouco as cadeiras tornam-nos indiferentes à politica e a única coisa a valorizar passa a ser a possibilidade de ainda haverem cadeiras nesses espaços; as próprias cadeiras que coladas ao rabo nos reclamam permanência e engolem até ao pescoço até ao momento em que ouvimos o nosso nome.  Depois tornamo-nos uma sombra das nossas certezas. Porque o tempo, de dúvidas, enormiza-se.

Falta pouco para a minha vez quando passa uma mãe a mastigar pastilha elástica levando a reboque um filho adolescente na fase do não se atura. Ela lança-me os faróis e estarreço. Percebo tratar-se de alguém habituada a ser fodida sem reclamar pois o olhar dizia fode-me enquanto a boca sempre a ruminar, desdenhosa, dizia vai-te foder. Os hospitais são férteis em motivos cinematográficos. Há de tudo e perder-me-ia num o suficiente para mais um guião.

Entro e dissipo as minhas dúvidas. Não, não se trata do ex-ministro. Menos mal. Mas menos mal o caraças! É que a mãe do filho previu o veredicto médico: Estás fodido! E agora vamos lá fazer mais exames para ver quão fodido estás.

Despeço-me do Sr. Doutor – é um que chegou de Jaguar e se ele pode dar nas vista com o Jaguar também eu posso fazê-lo com o meu isqueiro -, quase quase sucumbo á tentação de lhe perguntar se é irmão do ex-ministro mas previdentemente sou iluminado pela precaução: Melhor não perguntar não vá também ele ter ressentimentos com o poder governativo.

Saio no meu passo novo e claudicante. Sempre tive a impressão de que um claudicar como o meu, por revelar termo-nos permitido à aventura e a viver além das encomendas do dia a dia, nos empresta um certo charme, principalmente se for acompanhado por uma bengala de castão de prata. 

Chego ao carro e, porra!, está bloqueado por outro. Suspiro e cedo à tentação dum impropério. Desabafo com a chave e chega a dona do emplastro. Simpática e cheia de desmesuradas desculpas. Sorrio, perdoo, nada a fazer. E regresso a casa.

E ainda me perguntam o porquê de acordar aos gritos a meio da noite? Pelo menos eu claudico e vocês não. Se claudicassem já não perguntavam.

PBC

terça-feira, 22 de maio de 2012

No Pico da Agulha


No Pico da Agulha é uma curta metragem independente, drama que retrata uma possível realidade não tão distante das nossas vidas quanto isso. É antes de mais um filme de actores e um ensaio fotográfico narrado nascido da reflexão do autor acerca do actual panorama do cinema português, na qual a estética propositadamente negra e suja reflecte as dificuldades pelas quais a vontade de fazer ultrapassa e deve ultrapassar as condições e meios para que se possa fazer cinema em Portugal. Porque o amor pelo fazer e o motivo que o preside, como demonstram todos os intervenientes no projecto, se tornou mais forte do que as limitações impostas pelo sistema regente da produção cinematográfica. Porque para se narrar uma história basta havê-la; uma folha, um lápis e uma plateia, por menor que esta possa ser. Que as ideias que dão vida à gesta deverão ser partilhadas.
PBC

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Redenção à frustração?



Entedia-me esse permanente ar carregado, de nuvem cinzenta, pairando sobre a expressão esgar rosnante de quem - leia-se portugueses – engendrando pequenos poderes de bairro parece ter sempre algo a provar, como se a minha fosse sempre maior do que a tua mesmo quando não o é. Digo: Um bem parecer onde só pela negativa parece possível a redenção à frustração de, na maior parte das vezes, o conquistado não ir alem do sofrível. Indubitavelmente o que faz de nós e na essência, verdadeiramente, um país terceiro mundano com pretensões à europeização. E porque não medíocre?  

PBC

segunda-feira, 5 de março de 2012

Tatuadas no peito...



Mais do que saber onde moram tenho tatuadas no peito as cores de todas as estrelas que, sendo-me na epiderme, delineiam na candura das lágrimas indolores o mesmo fervor com que me lava a gargalhada mais profunda. Se no éter me certificam existir no silencioso grito do desejo a possível fusão da pele arrebatando-me o suspiro, estendendo-me o caminho para casa, para a eternidade dum abraço perdido, ou para o seu único nome...

PBC

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Competências sociais


Um dia, após alguns anos sem se verem dois amigos encontram-se e começam a pôr a conversa em dia. Um vira-se para o outro e pergunta:

- E então, como é que vão as coisas?

Responde o outro: - Epá, nada bem. Ando há imenso tempo a tentar arranjar trabalho mas não tenho conseguido nada. Estou a pensar fazer mais um curso.

Diz o primeiro: - Mas tu não tens já vários cursos?

Responde o amigo: - Sim, tenho três licenciaturas e dois doutoramentos mas estou a pensar fazer um curso de competências sociais. Disseram-me que para arranjar trabalho é melhor possui-las do que ter competências técnicas. Acontece é que ainda não percebi muito bem o que é isso. Quanto mais investigo mais baralhado fico. Talvez sejas tu quem me possa esclarecer.

O primeiro olha para ele, sorri e diz-lhe: - Bem, em principio, competências sociais não é coisa que se estude numa faculdade. Por definição trata-se da capacidade de nos relacionarmos de forma cordial e produtiva com os demais e com a sociedade em geral. Isso nos países normais, mas em Portugal é outra coisas.

Mais baralhado ainda pergunta o segundo: - Como assim?!

Resposta do primeiro:- Por cá, independentemente da besta ou do incompetente que sejas, de uma das seguintes basta-te ser ou lambe botas ou então conspirador, venenoso, fofoqueiro, opus dei, maçon, opus gay, do lobby da coca, do das orgias secretas, em fim, qualquer coisa onde fiques com o rabo preso.

Já completamente desconcertado pergunta ainda o outro: Sim, mas e como é que consigo saber como se chega lá?

Resposta final: Pá, talvez telefonando ou para a assembleia da republica ou então para a administração de alguma empresa pública.

PBC

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dizia-lhe ele...


Dizia-lhe ele:

Desculpa-me, mas de facto, estou-me literalmente a cagar para quem és ou deixas de ser, para o que tens ou não tens, para o que fazes ou nunca fizeste, para quem conheces ou deixas de conhecer, para onde foste ou deixaste de ir, para onde vais ou não vais, porque, para me conquistares ou impressionares, basta-te o olhar limpo pela verdade, e um abraço. Se assim for, dou-te um abraço também.

PBC