quarta-feira, 12 de maio de 2010


Não, não falo do sub-mundo ciber-espacial onde, agora, ultrapassada pelas redes sociais a pornografia atinge o seu apogeu e, o vicio solitário – sim, porque é sempre às escondidas que lá se vai; e não digam que não – retira ponta ao viver ao vivo e a cores, mas está na ordem do dia masturbarmo-nos em frente ao computador disfarçando de opinião e partilha de valores, doideiras , fantasias, tristezas ou até a exibição da gata da vizinha em férias nas Antilhas, a sexualidade reprimida disfarçando o mutismo e a solidão em legítimo autismo, que será o mesmo que dizer que é bem viver em duas frentes exteriorizando numa o que por vezes noutra se queda pela mera tentativa.

Benefício dos tempos modernos ou; numa espécie de instinto de sobrevivência em que a máquina como extensão da nossa pele reclama o seu papel no eco-sistema; legítima rebelião contra o individualismo e isolamento para o qual nos empurrou esta sociedade descaracterizada de valores que saciassem as nossas fomes mais profundas.

Mas o que quero mesmo referir é o facto de também ser moda ter um blogg e obliterar a causa da partilha de informação em infindos cortejares do próprio umbigo. E digo-o já sem saber se falo contra mim ou a meu favor, porque em boa verdade agrada-me a ideia de tentar globalizar o que me vai na alma nesta espécie de fecundação autista onde o sémen que daqui sai raras vezes produz petizes que valham a pena. É um facto. De qualquer forma não me consigo abster de analisar segundo a minha própria ordem de ideias esta coisa que para aí anda onde, - e friso que talvez seja só a minha implicância – por vezes mal distingo ter saído de um blogg e ter entrado noutro, tamanha é a semelhança temática, estilística, semântica, ou opinativa: Uma espécie de contra corrente produzindo a corrente do momento. Há de tudo, desde o – ò pra mim na Antárctida até ao - ò prá minha ideia sobre a ideia, sobre o Sócrates ou sobre os Led Zeplin, ou ainda, - Olha, curte lá esta.

É, assim se fode hoje em dia, e, quantas vezes, em última instância, o juízo aos outros. Mas é salutar - penso eu de que – exercitar a retórica umbilical neste pretenso aquiescer de relações extemporâneas com a actualidade, nem que seja para deixar uma indelével marca da nossa passagem pela vida, sem produzir-mos grande coisa, como é próprio da masturbação, zelando, a distintos níveis, pela qualidade do esperma e libido.

Nunca antes afagar o ego foi tão versátil, tão fácil ou possível, nem alcançou ilusoriamente tamanha distinção. Sei lá, acho mesmo que nunca antes se produziu tanto ruído em torno do que quer que fosse, levando-nos ao esquecimento da boa nostalgia de contemplar os enchidos no fumeiro. Enche-se por se encher sobre uma capa de intelectualização, cultura e mundanismo, que, em boa fé, assim se torna, numa cultura de janela aberta apensa a novas maleitas, viroses, e outras oses que tais.

Em fim, vive-se a masturbação sem preconceitos, e com o preceito de se ser para o olhar alheio antes de mais nada, desfrutando de um poder pretendido como descentralizado, mas, também aqui, viciado.

E por aqui me fico, pois, de tanto gostar de me ouvir a mim próprio, esta coisa pode tornar-se patológica.

PBC

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