terça-feira, 11 de março de 2014

Cabeças em merda.


Da minha janela vê-se cada uma. Ainda não entendi se a estupidez tem causas genéticas ou se advém da relação com os pais. É que há alguns que são perfeitas máquinas de fazer a cabeça do filhos em verdadeiros depósitos de merda. Explico: Fumando um cigarro deparei com um pai a ensinar o filho a andar de bicicleta. Imaculadamente reluzente a dita, diga-se de passagem. E o cenário prometia. Ora, a criancinha, na casa dos cinco seis  anos, entre o terror do estampanço e o do que já conhecia de ginjeira, as reprovações do pai, aos esses avançava uns escassos metros até se desorientar e travar bruscamente a marcha, com o pai sempre nervosíssimo. Assim que o miúdo tomava embalo, o pai, qual marine, começava a cantarolar “eu sou um granda ciclista, trálálálalá. E quando o puto repetida e tendencialmente guinava para a vedação do ringue, porque é assim mesmo, tendemos a rumar para junto de suporte, ele, aos berros e resfolegando, gesticulando como uma criança, de punhos cerrados, como se quisesse arrancar os próprio cabelos, dizia: - Não, não, não, para o muro não!! E isto vezes sem conta. Numa delas, não me contendo, de cá de cima, para que o tipo ouvisse, em meia surdina soltei um “grande lição de ciclismo”. Já me estavam a dar os forniques. O tipo baixou o volume nas investidas contra o miúdo mas a estupidez do tom manteve-se até que acabou por soltar a frase mágica: - Não, não, não, para o muro não, porra! Mais vale caíres e estampares-te mesmo do que ires contra o muro! Depreendo que porque o puto serviria de almofada à bicicleta e que ao chegarem a casa guardasse a criança na arrecadação e fosse com a bicicleta para cima. Certamente o mesmo tipo de pai do rapaz que ainda há pouco, depois de pedir à amiga um cigarro, que a coitada enrolou, se recusava a ir ter com ela para o receber. Como a miúda se fez de cara e o obrigou a ser ele a ir ter com ela, o engraçadinho, de bull terrier na trela, em vez de agradecer dá uma palmada no braço da desgraçada fazendo-a largar o cigarro. Claro está que, por eventualmente ter a cabeça menos feita em merda ela desatinou e pôs-se logo dali a mexer deixando-o agarrado à bull terrier. Casos destes têm-se sucedido. Lembro-me por exemplo da mãe que à saída do parque se virou aos berros para a filha de cinco anos, vestida do que para mim seria uma reluzente couve roxa desmaiada mas para ela princesa dos arrabaldes, dizendo-lhe: - Minha grande estúpida, já foste sujar os colantes e os sapatos; porra! Ora, se o parque é para as crianças brincarem e se espojarem, porque é que em vez de a vestir de couve não lhe vestiu um escafandro? Mas também há os outros exemplos nos quais em vez da simples intimidação e facadas na auto estima o que fazem é fomentar a má educação, como a mãe que ia provocando e espicaçando o filho de três anos, fingindo entregar-lhe a bola mas não chegando a fazê-lo, até à irritação da criança que entre pontapés e socos dos quais a senhora se ria acabou a ser parado com um “vá, pronto, acabou, sais mesmo ao teu paizinho”. Agora; culpabilizar esses pais por serem assim? Não coitados, já os pais deles o eram e os pais dos pais também. É que a merda tende a repetir-se de geração para geração e, tarde ou cedo, tanto na atitude como nos gostos, nem que a porca tussa, acabamos a puxar às origens. Quanto a mim acho deveras importante sabermos em que lado do cérebro nos depositaram a merda, para ou não virmos a sofrer graças ao seu cheiro, no caso de nos depararmos com quem não esteja para levar com ele e fazer como a miúda de há pouco ou, se pelo contrario encontrarmos quem esteja, não acabarmos a intoxicar esse incauto com as nossas merdices. Eu por exemplo sei bem onde e como a merda me foi depositada. Não sou dos que nesse âmbito considera a progenitura e ascendência como excelsas divindades sem culpas no cartório dos meus despropósitos e emoções turvas. Mas poucos são os que o reconhecem o cheiro da merda que carregam. Até porque o sangue é forte e a lealdade para com as origens dá jeito em situações de menosprezar o próximo. Portanto, há que preservar os bons costumes familiares. A mais, o que para uns é falta de educação para outros é um costume e tradição a proteger. É como os gostos e preferências. Eu falava de couve roxa desmaiada; não é verdade? Mas é só porque a minha cabeça também foi bombardeada com merda, poluída com sapatinhos de berloque e camisinhas de piquet e comportamentos de etiqueta. No fundo, apesar de ter feito a infância e parte da adolescência de calcinha de fazenda creme e camisinha azul e risca branca, sei que de gostos são gostos, legítimos, e sempre inerentes à formação de cada um. Nem melhores nem piores. Somente; no entender das minhas origens; lá está, pirosos por vezes. É lógico que não se pode pedir a uma varina que vista a filha como uma tia de cascais vestirá. Nem vive versa. É mais comum depararmo-nos com aspirantes a tias de cascais a refilarem com as filhas como varinas e varinas a pretenderem não ver a atitude das filhas por ser bem entre elas fazer vista grossa à deseducação das crias. Porque dá status no grupo. Enfim, merdas em prole de famílias felizes. E se não fossem estas famílias felizes, o que seria dos psicólogos? Se as disfunções psicológicas não se alastrassem aos outros como uma virose e, por irónico que pareça, não fossem sempre os outros a ter que fazer terapia para se livrarem das merdas alheias, como se destacavam as famílias entre elas?

PBC