És palavra de cristal que se refaz no reverso do olhar humedecido
reflectindo o toque com que na ponta da língua semeias fantasia
ou a espuma do mar esquecendo vagas de tempestade
o doce marulhar das pequenas ondas alisando num único embate a falésia escarpada
o silêncio mimado que esconde a ofegância dos sentidos duplamente despertados
no abraço estendido
o mistério secular
que se entrecruza no tempo em que os olhares passados falavam de presente
a casa que se larga sem se deixar de voltar para chegar e partir para nova viagem
o circulo que antecede o espaço projectado pelos dedos que se tocam bravios
e a fada
que ao respirar à superfície da pele o nome das horas
guarda no ventre as cores da aurora por inventar
E és essência
os caminhos estrelares amanhecendo-me no galope do sorriso alargado
o lume brando atiçado solenemente pela exactidão do sopro dos elfos vagabundos
o virar sem pestanejar mais uma página ao coração escancarado
as teclas do piano ressoando no crepitar da madeira empilhada ao canto das bocas de mel
e os passos descalços gastando o frio aos soalhos por varrer
o gesto rasurado que recompõe o leito à chegada do ósculo
e um não sei que nome dar ao suspiro
já que és
o pouco mais saber
do que o saber que estou
ou que não estou
se por acaso não acordo
em ti
PBC
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