domingo, 25 de abril de 2010

Poeira histórica

Volto a este texto.


Hoje acordei num mundo onde os cânones e estruturas a que me habituara eram já a poeira histórica cimentada.

Olhei em volta e de lá para cá vi andarem seres andróginos, hermafroditas, cinestésicos, telepatas, mutantes, alienígenas e toda uma série de outras criaturas que me pareceram saídas de alguma banda desenhada de Moébius. Percebi que todos falavam uma língua parecida mas nunca igual. Cocei a cabeça. Na única forma que possuo perguntei a um onde estavam as “antiguas" estátuas e velhas ruas e porque raio os painéis, letreiros e reclames estavam escritos daquela forma semelhante a um enxurrilho de erros ortográficos. Entendendo-o mal, contrariamente a mim, pareceu-me que o sujeito me entendeu perfeitamente e num dialecto a custo percepcionado explicou-me que ou eu era de “outrp” mundo ou, então, certamente estaria a gozar com ele. Segundo percebi, aquele homem que em tudo parecia normal, não fossem uns olhos “amarelsos” e “usn” lábios naturalmente azuis e não pintados, disse-me sem mexer os lábios que as coisas por ali sempre tinham sido assim e que “sequisesse” saber mais poderia sempre consultar um dos velhos computadores existentes no museu ...”Alip” possivelmente encontraria resposta para as minhas questões.

Caminhei e à medida que o ia fazendo, como não sabendo onde se situava o dito, fui tentando perguntar a alguns a direcção a tomar. Espantou-me o facto de nem ser necessário perguntar-lhes nada que de imediato me apontavam o caminho. Embora confortado com a simplicidade das ocorrências mergulhei sempre saudoso da segurança do meu velho mundo, espantado por “swr” sempre entendido apesar da “minah” linguagem do sec. XX. Cheguei a sentir-me um “verdeiro” dinossauro. Chegado ao tal museu, sem “k” tivesse tido necessidade de o abordar verbalmente, também o recepcionista me apontou aquilo que ali me levava. Por oposição, lembrei-me dos funcionários públicos a quem repeti vezes sem conta determinadas pretensões; para não obter cabal resposta às minhas dúvidas. Era um sujeito engraçado, com corpo de homem e rosto de criança, com “cabelas” vermelhos espetados e que, acariciando um gato roxo, pairava um pouco acima do solo. Pensando na estranheza daquela gente não contive um sorriso. Notei que as várias pessoas em torno me olharam todas, quase reprovadoramente. Confesso ter provado a intimidação.

Depois de vasculhar numa máquina com as insígnias “pentiuTT 91” e diferente dos computadores da minha época, senti que também essa me leu a mente oferecendo-me num ápice as matérias que procurava.

Acabei por dar com um manuscrito onde se lia:

- “Evoltutivamente”, a raça dominante no planeta tinha caminhado naturalmente para uma falta de atribuição de “importancia” à forma das ideias, passando a centrar-se mais nos seus conteúdos”… e “que o pensamento deixara de assentar em símbolos como catalizadores da ideia”....e “k” ideia, com ou sem ausência de forma “materializável” é sempre ideia pelo “k” a forma nos limita à posse dum único tipo de visão”...

Não quis acreditar no que li mas a avaliar pelo que me era dado notar essa seria uma realidade à “quel” enquanto “ali” permanecesse teria que me habituar. Um pouco mais além, num outro texto, li “tb” “K” por uma questão de sobrevivência e natural universalização da comunicação, bem como para não se deixarem dominar pelas máquinas, os homens tinham acabado por contrariar a linguagem que um dia “impuzeram” às mesmas, mantendo assim um distanciamento da retórica que na minha realidade era a usual. Dizia “inda” outro texto que a sublimação das ideias dispensa uma simbologia estanque pois a “estanquicidade” dos elementos perceptíveis da comunicação possui uma valência relativa em função da esfera e grau de evolução dos seres comunicantes.

Esbugalhando-me até ao possível “fikei” estarrecido “uaa” boa meia hora e, com todas as forças que me assolaram pretendi sair dalí o quanto antes. No entanto, uma voz saída de um “autofalente” que nunca cheguei a ver disse-me: Voçê acabou de entrar noutra dimensão e por mais que tente, dela “nõa” “mias” poderá sair...Agora é tarde... você não é quem pensa, você é simplesmente o crescer e a ilusão de ser maior; siga e “divirse-ta”... Não quis acreditar na minha sorte. Porém, já que “li” estava, dei-me à natural forma de estar do local.

Nos momentos imediatos também eu comecei a mudar passando a aceitar as diferenças formais. Ao adormecer percebi que há mundos a ter em conta e que o meu só é como é enquanto for. No dia seguinte, acordando algo exausto, realizei a dimensão da perenidade do estado das coisas no espaço e no tempo.

E a língua cresceu-me tanto “K” não mais me coube na boca.

PBC

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