Hoje encontrei um menino
que, mal se distinguindo na expressão tratar-se dum ancião ou dum recém
nascido, carregava no olhar tanto de sábio como de frágil. Era um menino de
olhos profundos, doces, sorridentes, compassivos, malandros e implacáveis e,
como quem as atirava ao ar, em cada mão brincava com uma bola invisível de
cristal. De todas as vezes que alguma delas descia e lhe tocava os dedos ficava
sério e circunspecto, sorrindo, e sempre que as fazia elevarem-se
maravilhava-se. Quando o abordei, dizendo-lhe não compreender o porquê de ficar
assim tão sério sempre que o que eu não via me parecia tocar-lhe nas mãos, e
se, estando ali daquela maneira a atirar ao nada coisa nenhuma não se importava
com o juízo alheio, olhou-me amorosamente e, sorrindo, disse-me: - Sabes, pouco
me importo com o que pensem ou que não me entendam. A importar-me seria com o
facto de os que o fizerem não se entenderem a eles mesmos, nem à vida, nem
entre iguais. Depois, iluminando ainda mais o sorriso, estendendo-me uma das
bolas, prosseguiu: - Queres ver? Olha, toma, experimenta tu. Não lhe vendo nada
nas mãos, por mera simpatia aparentei agarrar o que me entregou mas, ao
tomar-lhe o peso, vacilei. Era tão pesado que de imediato o largue. Tentei
reerguer a suposta bola mas ela mal se mexeu. O menino, consternado, dando uma
luminosa gargalhada, continuou: - Percebes agora não percebes? Confesso ter
continuado sem perceber grande coisa. E ele, intuindo-o, com quanta ternura lhe
saiu na voz, rematou: - Percebo-te. Agora, o que não calculo é se entenderás tu
que se não fosse este espírito de missão, amor e imensa paciência para vos
aturar, eu regressava era para aquele futuro distante, onde não existem
dinossauros.
PBC
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