Poucas coisas são
mais dolorosas do que, ao olharmo-nos ao espelho, o profundo confronto com o próprio reflexo.
E embora não
aprove nem esteja de acordo quer com as patranhas quer com a incompetência e defesa
de interesses obscuros manifesta pelos governantes deste país, dos que nos
vendem em benefício dos seus próprio interesses e dos que secretamente os acobertam
somente para preservarem posições de privilégio na cadeia alimentar, parece-me
a mim estarmos somente a colher o que enquanto sociedade civil temos vastamente
vindo a semear por via dos nossos comportamentos e alheamento dos valores em
falência, paralelos à situação financeira.
Não, não sou dos
que apoia ou concorda com esta cambada de governantes que me desfeiam o
televisor. Muito pelo contrario, estou farto, mas não somente das suas
politicas maquiavélicas, experimentais e beligerantes no âmbito macroeconómico.
Acima de tudo estou farto dos séquitos que rodeiam a nossa classe de poderes. Farto
de viver num país de gente incapaz de olhar com racionalidade e justiça para os
seus pares, para os que mal se manifestam e para aqueles que na maior parte das
vezes são uma afronta à imbecilidade, à futilidade, à pobreza de valores, à vivência
duma imagem não correspondente ao possível, hoje largamente instituída entre os
cidadãos portugueses. E não me refiro exclusivamente a políticos e chefias
institucionais, mas a muitos mais do que os que gostava de saber existirem por cá.
Não sei se sou só eu a ter este sentimento opinativo mas é
lógico que o reflexo da atitude vigente na maioria da população com expressão
modeladora das regras do jogo seja o sermos governados por incompetentes,
arrogantes, defraudores e figuras lacaias do compadrio financeiro e
estatutário.
Chega-se
finalmente à conclusão de que se impõe agora uma verdadeira e urgente mudança
em Portugal, que digo ser, não simplesmente das medidas governativas. Antes e sim, a par destas,
uma mudança estrutural no pensamento, na atitude e na mentalidade dos
portugueses, este povo facilitista esquecido da civilidade, complacente e
arrogante, esfomeado de posse, ostentação e plástico poder circunscrito a
compadrios, que dá vivas à mediocridade levando os medíocres a pensarem serem
melhores do que o são e, por consequência, a fazer-se proliferar o que lhe dá
sustentabilidade. Um povo que se compadece com o obscurantismo e que faz assentar
a ordem das coisas numa cultura de laxismo e chico espertice. Um povo que com o passar do tempo, nos mais variados quadrantes da vida, tem vindo a premiar e a contemplar num crescendo a incompetência, em desproveito da
competência, da racionalidade social e individual. Insensível ao que é a verdadeira socialização e ao vizinho mais próximo. No fundo, um povo promíscuo que, como forma de se
abster da honesta apreciação de si mesmo, antes de fazer uma auto avaliação
tende ao julgamento da promiscuidade por ele eleita. Será que não somos uma amálgama de gente que antes sequer de haver leite nas tetas da vaca, assim que nos é dito haver uma remota hipótese de o podermos sugar não começamos logo a extorquir a
teta nem que vaca esteja moribunda? Acho sermos. Acaso entre nós meritocracia não é um palavrão mais obsceno do que qualquer vernáculo? E na estrada, não temos sempre a pretensão da minha ser maior do que a tua? E aonde tem levado isso? Esqueceram-se?
De facto, se
entendermos que os nossos governantes eleitos democraticamente, tanto quanto manifestarem a maioria duma
vontade, acima de tudo reflectem os desejos individuais dessa mesma maioria,
não é vão considerarmos termos no poder aquilo que pedimos e o que merecemos.
Entedia-me este
apontar de dedo sem que cada um de nós faça antes uma prévia avaliação dos seus
comportamentos enquanto indivíduos e cidadãos. Quantos votam tendo em conta o
colectivo? Quantos bons retratos do Passos Coelho não existem entre nós?
Quantos de nós, nos nossos bairros e empregos não somos frequentemente uma
amostra dele? Tenho legitimidade para o dizer porque não só não votei no homem
como conheço alguns bons sacanas banais que na maior parte das vezes agem somente para
ludibriar e insuflar o ego, não se importando com o que ou quem atropelam pelo
caminho exclusivamente para se sentirem alguém. E com aprovação dos que lhes circunscrevem os interesses. E porque não sou nem nunca fui subsidio
dependente. E porque nunca pactuei nem consenti de boca fechada com panaceias
nem sodomizações à minha pessoa só para ser visto ou ouvir dizer ser alguém de
mais valias que não possuo. E porque não avanço pela cunha. Não, a mim não me
apanham nessa.
Não que de momento não exista validade em alguma da
revolta popular; é que cresci com o sentimento de acreditar ser ridículo e
infantil a queixa sem legitimidade. Mais, não trás mudança que não seja para
mais do mesmo. Por isso me intriga saber que mudanças procuramos antes de
mudarmos em nós tudo o que espelhamos na raça dos nossos governante.
PBC
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