É triste mas não
serão os políticos nem os poderosos a acabar com o que resta de toda esta
panaceia económica. Antes, porque estes unicamente se aproveitam da burrice
alheia, será sim a testosterona da classe média gesticulando o desespero em
arremedos de mediania e mediocridade e em ilusão tamanha que ainda julga
possuir ou conquistar os seus pequenos troféus quando na realidade o mais
que consegue possuir é a hipoteca da própria sombra, essa da qual foge mas deixa
um rasto de frondosa estupidez alastrando tão visivelmente que, aí sim, qual acepipe deixa caminho aberto ao maquiavelismo dos poucos realmente poderosos. Afeita à
miragem dum pecúlio que nunca chega, viciosa e viciada no consumo e na
comparação com a galinha da vizinha é esta a classe que de sobrolho levantado e
olhar por cima da pálpebra, em canto de cisne desasado e tentando a todo o
custo camuflar a cólera ainda se agarra a pequenos poderes de vão de escada e
quintal como se daí lhe adviesse a falsa superioridade com que em esgares
perdulários defronta os semelhantes. E de pouco lhe vale os que nela marcam
positivamente a excepção, simples arautos da excelência ou da esperança
solidamente fundada, mas, porque também confrontadores com a pequinês e
redundância de padrões a que se entregou, mau grado uma farta ostentação de
penduricalhos de pechisbeque paliativo, para ocultar a vergonha, abafados. Reivindica
respeito mas considera-o para tansos. Despreza-se na identidade e tenta passar
pelo que não é. Ao contrário da classe baixa a quem o sorriso sacia a fome e da
alta a quem este atesta a abastança, intimidada com a simpatia, constantemente
sobressaltada pela desconfiança e sempre de trombas mede por elas o status. Lambuza-se
e aliena-se em quimeras personificadas por prima-donas de divertimento ou em
camaradagens de ocasião para acrescentar mais rostos ao rol dos que nunca
estarão presentes quando forem necessários ou aos que haverão de calhar na
berlinda dalgum dia para expurgar o azedume e a frustração. Uma classe suspendida
na arrogância caduca e a rombas tábuas de salvação que, convença-se, não lhe permitirão
não sucumbir a não ser que se reavalie a si mesma e aos princípios que lhe dão
corpo. Porque os dos extremos; uns porque já nada têm a perder e se resignam à condição
de párias do sistema e outros porque de facto imperam, podem e têm; esses não
contam a favor da balança do que ainda há para sacar ou orquestrar. No meio,
iludida e mais permeável a ser convencida pelos acenos de possessão atirados
pelos mais possantes da cadeia alimentar, em vez de assumir o seu papel
equilibrante esta classe média senil limita-se a arrogar a cagança com que
exibe os óculos escuros na ponta do nariz e a ridícula presunção com que conduz
os “Audi’s” raramente próprios. Não se olha de frente mas de soslaio como aos
demais. Auto-deseducada pelos excessos da ganância é de facto esta categoria
apegada a tudo o que se lhe engoda que se perderá levando com ela a ainda
possível justiça de forças, deixará de existir e sem marcar pontos fará jogar o
derradeiro declínio das classes e a combustão da dignidade dos que acreditam
num mundo melhor. Porque se digladia entre ela em vez de apontar para onde ou
para o que interessa: Os valores de equilíbrio com que merecer a dignificação da
competente condição de humanos ou animais mais do que pensantes. Uns, os domadores, atiram com nacos de carne já podre e os
outros, as feras, esgadanham-se e devoram-se nem que seja para ostentarem as
sobras diante da alcateia. Já não há luta de classes mas luta no seio da
própria classe, a que, deslumbrada pelo reflexo do usufruto, mal rosnando esterilmente
a quem lhe atira com o bofe, entre uma refeição e outra abocanha os seus filhos
e irmãos e oferece de mão beijada a própria extinção. E o pior é que na
ignomínia dos seus mais pequenos gestos denota congratular-se de ser
progenitora dum futuro penhorado para os vindouros.
PBC
Sem comentários:
Enviar um comentário