terça-feira, 8 de abril de 2014

Mas o cosmos.

Sabes?; gosto de crer o universo como o que de mais poético existe. Por comparação, somente se lhe equiparam o sorriso da nossa filha e os suspiros e gemidos que como estrelas eclodindo lhe deram corpo. E não é um acreditar somente por acreditar. Antes uma certeza como a de te amar. Muitos dirão haver a mão de Deus nisso. Outros simplesmente que fruto da nossa vontade. Mas serão histórias. Estarão todos errados, embora pudéssemos equacionar o sermos onde acabamos sempre por nos termos atribuindo-lhe a inferência de valores duma energia primordial divina. Há matemática para isso, como para a da minha pituitária procurando-te no fervor de alguns dias ou para a elasticidade dos beijos prolongados que se repetem e já existiam antes mesmo de ocorrerem. Não sei se já te disse mas o universo acontece pela existência de forças de carga contrária e as galáxias e processos férteis pela relação de sistemas binários gravitando em torno uns dos outros graças às leis da atracção e gravidade, e que empurrados ou afastados por partículas invisíveis percorrendo toda a eternidade em proveito da criação de estabilidade e massa crítica essencial ao equilíbrio cósmico acabam por se fundir produzindo ou evitando sistemas mais amplos. Digamos que na plena e derradeira expressão do amor. Talvez por esse mesmo motivo, para que me sinta pleno, uns dias necessite de viver a transmutação, não de ti em mim ou de eu em ti, que isso é fantasia de poetas, mas somente a de sermos o meio caminho que nos amacia a pele, para que ao nos descobrirmos tesão se abra o céu no qual voarmos ao encontro do infinito. Noutros dias, nos onde sou onde não me encontras, pois que o cosmos me requisita noutro hemisfério, basta-me escutar-te na repercussão do que deixamos sobre a cama, sermos meramente silêncio no qual tomarmos sem reticencias a extensão do vazio que naturalmente nos separa, para que no simples gesto do desejo aclarado possamos ser novamente sopro de luz na memória do que repetir, uma e outra vez, suavemente, como o lento enlace das galáxias, ou furiosamente, como o embate selvagem de planetas maiores. Quem sabe até, tornarmo-nos Deuses, quem sabe…  se o que me transporta até aí não é mais que energia criadora; não eu, não tu, mas o cosmos.

PBC

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