Mas o cosmos.
Sabes?; gosto de crer o universo como o que de
mais poético existe. Por comparação, somente se lhe equiparam o sorriso da
nossa filha e os suspiros e gemidos que como estrelas eclodindo lhe deram corpo.
E não é um acreditar somente por acreditar. Antes uma certeza como a de te
amar. Muitos dirão haver a mão de Deus nisso. Outros simplesmente que fruto da
nossa vontade. Mas serão histórias. Estarão todos errados, embora pudéssemos
equacionar o sermos onde acabamos sempre por nos termos atribuindo-lhe a
inferência de valores duma energia primordial divina. Há matemática para isso,
como para a da minha pituitária procurando-te no fervor de alguns dias ou para
a elasticidade dos beijos prolongados que se repetem e já existiam antes mesmo
de ocorrerem. Não sei se já te disse mas o universo acontece pela existência de
forças de carga contrária e as galáxias e processos férteis pela relação de
sistemas binários gravitando em torno uns dos outros graças às leis da atracção
e gravidade, e que empurrados ou afastados por partículas invisíveis
percorrendo toda a eternidade em proveito da criação de estabilidade e massa crítica
essencial ao equilíbrio cósmico acabam por se fundir produzindo ou evitando
sistemas mais amplos. Digamos que na plena e derradeira expressão do amor. Talvez
por esse mesmo motivo, para que me sinta pleno, uns dias necessite de viver a
transmutação, não de ti em mim ou de eu em ti, que isso é fantasia de poetas,
mas somente a de sermos o meio caminho que nos amacia a pele, para que ao nos
descobrirmos tesão se abra o céu no qual voarmos ao encontro do infinito.
Noutros dias, nos onde sou onde não me encontras, pois que o cosmos me
requisita noutro hemisfério, basta-me escutar-te na repercussão do que deixamos
sobre a cama, sermos meramente silêncio no qual tomarmos sem reticencias a
extensão do vazio que naturalmente nos separa, para que no simples gesto do
desejo aclarado possamos ser novamente sopro de luz na memória do que repetir,
uma e outra vez, suavemente, como o lento enlace das galáxias, ou furiosamente,
como o embate selvagem de planetas maiores. Quem sabe até, tornarmo-nos Deuses,
quem sabe… se o que me transporta
até aí não é mais que energia criadora; não eu, não tu, mas o cosmos.
PBC
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