Não escrevo para outro alguém que não para mim mesmo. No fazê-lo, antes de aprovação ou entendimento alheio urge-me tão só o entender-me no sentir dos termos reverberando-me nas entranhas, na espacialização fonética dos significados e significantes passíveis de os cartografar terminologicamente e em concordância com a génese que em mim deles se alimenta.
Neste espaço ou outro dentro das paredes da minha casa jamais subjugarei a verdade da minha expressão escrita a formalismos que a remetam para o enclausuramento hermético de alguma torre de marfim, que não a pretendo perfeita mas exclusivamente sentida, que não a pretendo em lógica comum mas simplesmente intima, que não a creio para deleite ordinário mas mormente pessoal, que não a ambiciono do agrado geral mas arredada do momento, despida de tempo.
Que me enfadam sentenças ortograficamente imaculadas mas paridas sem alma, desenxabidas. Que as prefiro bastardas, porém, que a esta e só a esta pele se cravem, que me nascem egoístas. São-me como as musas. Por norma, em detrimento das estereotipadas encantam-me algumas fisicamente imperfeitas e, vá-se lá saber o porquê, ainda que a mais ninguém emocionem, aceleram-me o sangue.
Assim não fossem não eram minhas as minhas palavras. Teria eu outra identidade, essa que nem pela forma nem pelo conteúdo a/as amordaçará ou falseará na personalidade. Doer-me-ia enganá-las no jeito de me acontecerem, como se sendo coxo me doesse a exigência de não mancar ao correr além.
Se por tanto não as consentisse, não me serviriam, nem elas de mim.
Nem eu aqui assim.
PBC
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