..."Não havia nada
a fazer a não ser vivê-la. Nem eles o queriam. Afinal, quando uma paixão assim
surge não existem regras definidas nenhumas que possam desafiar a razão a cessá-la nem a possibilidade de se refazer com outra sorte a existência dos apaixonados.
Estão-no e pronto. Por isso sufocava-os a distancia e serenava-os estarem à
distancia dum simples olhar. Porque a pele se distendia para lhes embalar
arrepios e o desejo acertando-lhes o ser com o tempo; sentiam-no como a
exactidão do reencontro ansiado durante séculos. Só o silencio e os olhos o
sabiam. Talvez fosse essa a única descrição do estarem tão terrivelmente
apaixonados. Não havia outra causa além dessa e a do incontrolável apelo dos
corpos cedendo à vontade de se terem. À noite, já na cama, almejarem-se era a
sua almofada e, ao longo do dia, sentiam constantemente a alma largar o corpo
em desenfreada corrida partindo para os braços uma da outra, fundindo-se, de
forma que quando experimentavam essa sensação tudo o mais que não fosse um
suspiro ou o desejarem-se mais e mais sabia-lhes a incompletude. Doía-lhes a
espera e a incerteza do que ambicionavam viesse a precede-la; o único lugar
onde já há algum tempo pertenciam. Ao olharem-se, mais do que o recato
resguardando a incerteza da correspondência devoravam-se, confirmando-o, dissipando
a angustia de se pertencerem sem se desfrutarem"...
PBC in "A alma dos amantes"
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