sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Só silencio e olhos o sabiam.


..."Não havia nada a fazer a não ser vivê-la. Nem eles o queriam. Afinal, quando uma paixão assim surge não existem regras definidas nenhumas que possam desafiar a razão a cessá-la nem a possibilidade de se refazer com outra sorte a existência dos apaixonados. Estão-no e pronto. Por isso sufocava-os a distancia e serenava-os estarem à distancia dum simples olhar. Porque a pele se distendia para lhes embalar arrepios e o desejo acertando-lhes o ser com o tempo; sentiam-no como a exactidão do reencontro ansiado durante séculos. Só o silencio e os olhos o sabiam. Talvez fosse essa a única descrição do estarem tão terrivelmente apaixonados. Não havia outra causa além dessa e a do incontrolável apelo dos corpos cedendo à vontade de se terem. À noite, já na cama, almejarem-se era a sua almofada e, ao longo do dia, sentiam constantemente a alma largar o corpo em desenfreada corrida partindo para os braços uma da outra, fundindo-se, de forma que quando experimentavam essa sensação tudo o mais que não fosse um suspiro ou o desejarem-se mais e mais sabia-lhes a incompletude. Doía-lhes a espera e a incerteza do que ambicionavam viesse a precede-la; o único lugar onde já há algum tempo pertenciam. Ao olharem-se, mais do que o recato resguardando a incerteza da correspondência devoravam-se, confirmando-o, dissipando a angustia de se pertencerem sem se desfrutarem"...

PBC in "A alma dos amantes" 

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