quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Anjos e demónios

DR


Sei tratar-se dum demónio sempre que o inferno se inflama nem que seja por o canário da vizinha não cantar exactamente à meia noite ou tão só porque o meu firmamento é cristal reflectindo-as ou iluminando-lhe as presas que me quer cravar. E eu, simples pecador que, ao morrer, seguirá directamente para Céu. Já não necessito de amargar no inferno, que esse, buscando um anjo, tenho-o percorrido todo na terra. Talvez por a minha mente ser catedral encerrando segredos de colossal biblioteca à qual não posso fugir, ancestral e eterna, blindada ao mundo, onde o risco de me enclausurar se afigura eminente e, no entanto, para me assombrar a fugacidade dos sonhos mais temporais a esparsas flanqueia de par em par, convidativamente, os portões. Ao menos tivessem a benevolência de não se escancararem ao ponto de evidenciarem do interior a ignorância grassando cá fora. Que, para tormento meu, serve de alimento àquele demónio.

PBC 

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